Desperto abruptamente devido a claridade que invade o
ambiente, sinto um pequeno incômodo e logo me levanto para aliviar aquela
tensão causada pelos inúmeros copos de cerveja ingeridos na noite anterior.
Após me sentir um pouco melhor, busco na paisagem através da janela um sinal de
estabilidade, este que já esperávamos há alguns dias, sucumbindo impiedosamente
ao legado destacado na região, composto do fermentado da garapa destilado, mais
conhecido como cachaça, que impera na economia local. Observando a nebulosidade
presente em toda a extensão do céu, não hesitei em comentar com os amigos ali
presentes, dos quais imaginei que estariam embriagados pela sonolência, mas que
se mostraram ativos logo na primeira reação.
-“Se for pra ir vai ser agora!”
Foi a primeira resposta que ouvimos, visto que o horário já
se mostrava adiantado, eram por volta de onze horas da manhã e ainda tínhamos
cerca de duzentos quilômetros de estrada para chegar ao nosso destino, estas
que estavam desgastadas, resultado de chuvas ininterruptas em um caminho que há
muito não recebe manutenção adequada, aliás sequer tem uma estrutura aceitável,
uma estrada de terra com inúmeros buracos, depressões, poças d’água e barro,
seqüenciada por uma estrada asfaltada e bem sinalizada porém comandada por
carretas gigantes, estas que vão até os trinta metros de extensão. Ainda em
Taiobeiras procuramos alguns itens que ainda faltavam em nossas bagagens, como
a chave de boca e a marreta, indispensáveis para a conquista e algo para forrar
o estômago, já que alimentar era fora de cogitação, visto que a noitada
anterior rejeitou uma ingestão apropriada àquela atividade que estávamos nos
preparando.
Depois de um bom trecho de estradas começamos a visualizar
os gigantes maciços rochosos, a iniciar por uma bela formação em Medina e
muitas outras na chegada de nosso destino, a bucólica cidade de Pedra Azul.
Como nosso horário era curto, decidimos sequer contemplar aquela bela paisagem
e fomos diretamente ao Forno de Bolo, destacado por parecer fielmente ao seu
homônimo, e emoldura este fantástico município provedor de um dos mitos da
cultura musical brasileira.
A caminhada até a rocha foi um pouco morosa, no entanto por
volta das três horas da tarde estávamos na base da via, onde existe uma seta
caracterizando o rumo a tomar para se alcançar a primeira chapeleta e
rapidamente iniciamos a escalada. As três primeiras cordadas, conquistadas
anteriormente pelos companheiros Fabinho e Luzinha são mais expostas porém
muito fáceis, mas ao chegarmos na P3, nos deparamos com uma “barriga”
desprovida de agarras e a partir daí a conquista passou a ser um misto de
artificial e livre, encadeados depois pelo companheiro Fabinho, que a graduou
em 7c predominando o sexto grau. Na P4 surgiu outro problema, as macambiras que
espetavam as nossas mãos a cada agarra que usávamos predominava acima desta
parada, daí o Fabinho tomou frente e encarou o desafio de “abrir espinho no
peito” e após um belo lance de fendas e diedros acabou encontrando um grampo
“P” onde vimos que a via se encontra com outra próxima ao cume, mas mesmo
pesquisando não achei nenhuma informação sobre esta via. Subindo costão acima e
um filhote de jararaca no meio da via, batemos mais uma parada dupla e pouco
após mais outro grampo, mais trinta metros acima e CUME! Isso já eram por volta
de oito e meia da noite e após uma pequena comemoração e registro no livro,
iniciamos os rapéis, caracterizados pela má escolha nossa dos equipamentos e
acabamos sendo prejudicados por uma corda estática de cem metros que torcia cada
vez mais a cada descida e formava um “bolo” complexo de desembolar, e chegamos
ao chão somente por volta de uma da manhã!
Após forrar o estômago em Pedra Azul pegamos
estrada para Taiobeiras, onde chegamos por volta de cinco da matina e
finalmente podíamos descansar!! Saudações a família Pires e Santana, por nos
acolherem nesta aconchegante cidade e aos parceiros Luzinha e Fabinho, por
persistirem a voltar neste belo monumento natural do qual este grandioso estado
de Minas dispõe!
A imponente cabeça tortaCordada da barriga, graduada em 7c
Fita abandonada para rapel
Detalhe da corda estática "dos infernos" que se tornou uma bololância impossível de desembolar
ART
A rocha, um misto de macambiras e pedras soltas
arrumando os equipos
3a cordada da via, cordada fácil, porém exposta
Comemorando o CUME!
No caminho de Pedra Azul, só alegria
Rodovia estadual
travessia do brejo
Forno de bolo, a via segue a esquerda da grande canaleta
Livro de cume
Forno de bolo com a rodovia de acesso a Pedra Azul ao fundo
E a chuva nos acompanhava incessantemente
Fabinho "perrengando" no crux da via
Via Padre Iluminando a Vela Face Leste do Forno de Bolo IV 7A (7C/A1) E3 D2 335 mts + costão